MONITOR DAS SECAS DO MÊS DE AGOSTO DE 2015
Por Márcio Fialho em 21 de setembro de 2015
NARRATIVA DO MONITOR DAS SECAS DO MÊS DE AGOSTO DE 2015
Condições Meteorológicas do Mês de Agosto de 2015
Historicamente, o mês de agosto faz parte do período de estiagem na maior parte do Nordeste brasileiro, com exceção da faixa leste (numa área que vai desde o litoral do Rio Grande do Norte até o extremo sul da Bahia), onde os volumes de chuvas variam entre 75 mm e 200 mm. Nas demais áreas da Região, em anos considerados normais, os acumulados de chuvas não ultrapassam os 25 mm, Figura 1 (B).
Em agosto de 2015, os volumes mais expressivos de chuvas foram registrados no estado da Bahia, onde também se expandiram por uma área maior do que o normal, chegando até a Chapada Diamantina e Sudoeste do Estado. No entanto, os maiores acumulados (variando entre 75 mm e 150 mm) foram observados nas localidades mais próximas ao litoral, Figura 1 (A). Por outro lado, as chuvas foram mais escassas na faixa entre os estados de Sergipe e Rio Grande do Norte, onde os volumes mais expressivos não ultrapassaram os 75 mm, resultando, assim, numa anomalia negativa para o mês de agosto. Nas demais áreas da Região Nordeste, onde houve registro de chuvas, os acumulados ficaram abaixo dos 25 mm, o que é uma situação normal para essa época do ano, Figura 1 (C).
Síntese do Traçado do Monitor das Secas de Agosto de 2015
Em uma pré-análise, para o traçado do mapa do Monitor de Secas de agosto de 2015, foram considerados os índices SPI e SPEI de 3, 4, 6, 12, 18 e 24 meses, com maior detalhamento para os estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia, em virtude, de uma quantidade maior de pontos e informações que esses Estados apresentam. No intuito de compensar a falta de informações, não só nesses Estados, mas, principalmente, naquelas áreas onde há um déficit maior, foram utilizados de forma ampla os seguintes produtos de apoio: índice de saúde da vegetação, climatologia das precipitações, precipitação observada no mês de agosto e nos meses anteriores, anomalia de precipitação, índices combinados (SPI e SPEI de curto e longo prazo).
É sempre bom lembrar que, a partir do mês de maio de 2015, outros produtos de apoio disponibilizados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) também passaram a ser utilizados, como: precipitação acumulada (mm) nos período de 1, 2, 3, 4, 12 e 24 meses, normais climatológicas, precipitação classificada por quantis (extremamente seco, muito seco, seco, normal, chuvoso, muito chuvoso e extremamente chuvoso) para o período de 1, 3, 6, 12 e 24 meses e o indicador SPI para 1, 3, 6, 12 e 24 meses. Com isso, áreas da região NE, onde há poucos pontos de informações, foram mais detalhadas e, consequentemente, melhor analisadas. Além disso, esses produtos de apoio serviram para complementar as análises feitas em áreas onde a densidade de informações é maior.
É necessário ressaltar que, para o traçado deste mapa, foi considerada a seca física, levando-se em conta, principalmente, os índices (SPI e SPEI), sem analisar as informações dos reservatórios. A Figura 2 (A e B) mostra os mapas validados, referentes aos meses de julho e agosto de 2015, onde é possível verificar algumas mudanças no traçado geral, tais como:
O estado do Maranhão (MA), comparando com o mês anterior (julho), continua predominando uma seca de intensidade moderada (S1) na maior parte de seu território, mesmo com a redução na área de uma seca de fraca intensidade (S0), na região central do Estado, e uma expansão na área de seca grave (S2), tanto na área central quanto em toda a faixa leste (na divisa com o estado do Piauí). Tais mudanças se devem, principalmente, a redução nos índices de umidade do ar e volume das precipitações, bem como, no aumento das temperaturas (normal para essa época do ano), evidenciadas nos índices de vegetação, que mostra o agravamento na severidade da seca. Em todo o Estado, o impacto causado pela seca é curto e longo prazo.
No estado do Piauí o grau de severidade da seca varia de intensidade grave (S2) a excepcional (S4), também com impacto de curto e longo prazo. Quando comparado com o mês anterior (julho), verifica-se uma expansão na área S2 (no sul do Estado) e, para oeste norte da área S3 (seca extrema). Também se constatou um agravamento na seca na região conhecida como mesorregião Sudeste Piauiense (que faz divisa com o oeste de Pernambuco e sudoeste do Ceará), onde houve uma ampliação na área da seca S4. Assim como no estado do Maranhão, a expansão na e agravamento na intensidade da seca no Estado do Piauí se deram, principalmente, a redução no volume das chuvas nos últimos meses, bem como, a elevação nas temperaturas e, consequentemente, nas taxas de evapotranspiração. Tais informações também foram confirmadas pelos índices de saúde da vegetação do mês de agosto e início de setembro.
No Ceará, as poucas chuvas registradas no mês de agosto contribuíram para ampliação na área de seca fraca (S0) no norte do Estado, isso se comparado com o mapa do mês de julho. Ainda assim, na região conhecida como mesorregião Metropolitana de Fortaleza os indicadores mantiveram sem indício de seca. Por outro lado, nas demais regiões do Estado o grau de severidade da seca varia de seca moderada (S1) a seca excepcional (S4). Essa última, portanto, teve expansão na área, principalmente, nas mesorregiões Sul e Centro-Sul, na divisa com o estado da Paraíba. Em todo o estado, o impacto devido às condições de seca também é de curto e longo prazo.
No estado do Rio Grande do Norte, as poucas chuvas registradas no mês de agosto refletiram na severidade da seca em algumas áreas do Estado, a exemplo das mesorregiões do Agreste e Leste Potiguar, onde a vegetação se apresentava saudável no mês de julho, enquanto que, no mês de agosto esta já se encontra em nível de stress, com mais intensidade no Agreste. Além desse stress na vegetação, somado aos indicadores SPI e SPEI, houve uma expansão na área de uma seca fraca (S0) sobre as mesorregiões do Agreste e Leste Potiguar, além de um aumento na área S1 (seca moderada) sobre o Agreste. Outra mudança também foi verificada na mesorregião Central Potiguar, especificamente, na microrregião Macau, onde houve uma expansão na área S2 (seca grave). Nas demais regiões do Estado, a intensidade da seca continua variando de fraca (S1) a excepcional (S4), com maior severidade no extremo oeste, com destaque para a microrregião da Chapada do Apodi. Quanto aos impactos, verificou-se que na maior parte do Estado estes continuam sendo de curto e longo prazo, com exceção da mesorregião Agreste, onde está iniciando o período de estiagem, os impactos são de curto prazo.
No estado da Paraíba também foram poucas as mudanças na intensidade da seca no mês de agosto, quando comparada ao mês de julho. As mais significativas ocorreram na faixa litorânea, com redução na área de seca moderada (S1) e expansão na área de seca fraca (S0) e, no extremo oeste, com a expansão na área de seca excepcional (S4). Nas demais regiões da Paraíba, o predomínio continua sendo de uma seca extrema (S3). Quanto aos impactos da seca, no estado da Paraíba estes também são de curto e longo prazo.
No estado de Pernambuco, as poucas chuvas que ocorreram no mês de agosto de 2015 refletiram com o agravamento da seca, principalmente, na área com intensidade excepcional (S4). Tal expansão foi mais evidente na mesorregião Agreste, onde teve um pequeno avanço sobre as mesorregiões do São Francisco e Sertão. Nas demais áreas do Estado, não foram verificadas mudanças significativas na intensidade da seca, ou seja, na mesorregião Litoral, a seca varia de fraca (S0) a moderada (S1), com impacto de curto prazo, enquanto que, nas mesorregiões do Agreste, Sertão e São Francisco, a seca varia de grave (S3) a excepcional (S4), com impacto de curto e longo prazo.
No estado de Alagoas, as chuvas que ocorreram no mês de agosto de 2015 também não foram suficientes para manter uma condição de ausência de seca na faixa centro-sul do litoral alagoano, resultando, assim, numa expansão da área de seca fraca (S0) cobrindo todo o litoral. Outra área que também merece destaque é no extremo oeste do Estado, especificamente, na mesorregião Sertão Alagoano, onde houve uma redução na área de intensidade S2 (seca grave) e surgimento de uma pequena área de intensidade S3 (seca extrema). Nessa região do Estado, o impacto da seca continua sendo de curto e longo prazo, enquanto que, no setor leste, o impacto é de curto prazo.
No estado de Sergipe as mudanças mais significativas na severidade da seca ocorreram nas mesorregiões do Agreste e Leste Sergipano, onde as chuvas de agosto não foram suficientes para manter essas áreas numa condição de ausência de seca. Quando comparado com o mapa do mês de julho de 2015, houve uma expansão da área S0 (seca fraca) em, praticamente, toda a extensão dessas mesorregiões. Ainda assim, no extremo sul do Estado (na divisa com o nordeste da Bahia), as chuvas em torno da normalidade mantiveram essa área numa condição de ausência de seca. Quanto aos impactos, em praticamente todo o território sergipano estes continuam sendo de curto prazo, com exceção do extremo noroeste, onde os impactos são curto e longo prazo.
A Bahia foi um dos estados onde ocorreram as mudanças mais expressivas na severidade da seca, ou seja, na faixa centro-leste do Estado, as chuvas acima do normal para esse mês contribuíram para expandir a área sem seca. Por outro lado, na faixa centro-oeste, a falta de chuvas, somada a elevação nas temperaturas, foi a principal responsável pela intensificação na severidade da seca, onde houve uma expansão nas áreas S1 (seca moderada) e S2 (seca grave), quando no mês anterior predominava uma seca fraca (S0). Na faixa norte do Estado, que faz divisa com os estados do Piauí e Pernambuco, não foram verificadas mudanças significativas, ou seja, se manteve a intensidade variando de moderada (S1) a extrema (S3). Também é importante mencionar o surgimento de uma pequena área de intensidade S2 (seca grave) na mesorregião Centro-Sul Baiano, especificamente, na divisa com o estado de Minas Gerais. Em relação aos impactos, verificou-se que na maior parte do Estado, estes são de curto prazo, com exceção da faixa norte, onde a seca tem impacto de curto e longo prazo.
Para o refinamento no traçado do mapa do mês de agosto, foram utilizadas as considerações feitas pelos representantes da ANA – DF, APAC – PE, FUNCEME – CE e ARESTech, durante a reunião de autoria no dia 10/09/2015, bem como, as contribuições dos validadores da FUNCEME – CE, AESA – PB, CODEVASF – PE, EMPARN/EMATER – RN, CEMESE – SE, SEMAR – PI e LABMET/NUGEO/UEMA – MA. Agradecemos a todos que contribuíram para o traçado do mapa ficar mais próximo da realidade de seca vivenciada em cada estado.