MONITOR DE SECAS DO MÊS DE JANEIRO DE 2020


Por em 17 de fevereiro de 2020



NARRATIVA DO MONITOR DE SECAS DO MÊS DE JANEIRO DE 2020

O mês de janeiro é caracterizado por ser um período elevados índices pluviométricos nos Estados do norte, centro-oeste e sudeste do Brasil. No entanto, em janeiro de 2020, as precipitações, em grande parte do Nordeste, não ficaram acima da média histórica. Na Figura 1, onde são apresentados os estados das regiões já contempladas no Monitor de Secas, observa-se que os índices pluviométricos históricos de janeiro (Figura 1.a) chegam a mais de 250 mm em algumas áreas de Tocantins e Goiás. Em Minas Gerais, historicamente, as chuvas podem ultrapassar os 300 mm em algumas áreas, mas tendem a decrescer na direção nordeste do estado. O Rio de Janeiro apresenta um padrão semelhante a Minas Gerais, com chuva diminuindo em direção ao norte. No Espirito Santo, historicamente a chuva de janeiro não ultrapassa os 200 mm. No Nordeste, exceto o Maranhão e parte dos estados do Piauí e Bahia, os índices pluviométricos esperados para janeiro são inferiores a 100 mm na maioria das regiões. O Maranhão apresenta valores mensais de chuva, neste período, semelhante aos estados de Tocantins e Goiás. Já a porção oeste do Piauí e centro-oeste da Bahia, apresenta precipitações superiores a 100 mm. Algumas regiões do Ceará (litoral norte e Cariri) e Paraíba (sertão) também apresentam médias históricas superiores a 100 mm em janeiro.

Em relação ao que foi observado em janeiro de 2020 (Figura 1.b), pode-se afirmar que os maiores volumes de chuvas foram observados em Minas Gerais, Goiás, Tocantins, Maranhão, Espirito Santo e Rio de Janeiro, como um todo, e parte leste e sul do Piauí, centro-leste da Bahia e parte do litoral norte do Ceará, com montantes entre 250 e 300 mm, chegando a valores maiores, como parte do nordeste maranhense (>400 mm), parte do oeste goiano e parte da região centro-sul mineira (> 500 mm). Já os menores volumes observados concentraram-se no litoral leste do Nordeste, entre os estados da Paraíba e Sergipe, com predomínio de valores inferiores a 30 mm.

De forma geral, predominaram anomalias positivas na região de abrangência do monitor (Figura 1.c), o que indica que janeiro foi um mês onde ocorreram chuvas acima da média histórica em grande parte dos Estados. Os maiores desvios foram observados na região norte do Maranhão (superiores a 200 mm) e nas regiões nordeste (>300 mm) e central de Minas Gerais, com valores superiores a 600 mm.

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Figura 1. Espacialização da precipitação (mm) mensal no mês de Janeiro de 2020, na região Nordeste do Brasil (NEB), e dos estados de Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro: (a) Climatologia; (b) Precipitação acumulada; (c) Anomalia de precipitação. Fonte: Produtos apoio Monitor de Secas.

 

Síntese do Traçado do Monitor de Secas de Janeiro de 2020

Em uma pré-análise, foram considerados os índices SPI (Indicador Padronizado de Precipitação) e SPEI (Indicador padronizado de Precipitação-Evapotranspiração), para 3, 4, 6, 12, 18 e 24 meses, com maior detalhamento para os estados do Ceará (CE), Rio Grande do Norte (RN), Paraíba (PB), Pernambuco (PE), Alagoas (AL) e Bahia (BA), em virtude de uma quantidade maior de pontos e informações que esses estados apresentam. No intuito de compensar o déficit de informações, tanto para esses estados quanto para as demais áreas do NEB e para os estados de Tocantins (TO), Goiás (GO), Minas Gerais (MG), Espírito Santo (ES) e Rio de Janeiro (RJ), foram utilizados os seguintes produtos de apoio: climatologia da precipitação mensal, precipitação observada e anomalia do mês de dezembro, temperaturas máximas, médias e mínimas deste mês e do trimestre (OND), bem como o índice de saúde da vegetação (VHI) ao longo de dezembro (valores mínimos, médios, absolutos e normalizados). Para o traçado deste mapa foi considerada a seca física, levando-se em conta os índices SPI, SPEI e COMBINADO de curto (mínimo de SPI 03 e 04 com SPEI 03 e 04) e longo (mínimo de SPI 12,18 e 24 com SPEI 12,18 e 24) prazo, levando-se em conta também os impactos da seca na população urbana e rural. Os índices que englobam proxies de escoamento superficial e a presença de veranicos (SRI e SDSI) também foram avaliados.

Comparando-se o mapa validado no mês de dezembro de 2019 (Figura 2.a) com o mapa validado de janeiro de 2020 (Figura 2.b), verificam-se mudanças significativas no traçado atual, que são transcritas a seguir.

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Figura 2. Mapas do Monitor de Secas em 2019: (a) Dezembro/2019; (b) Janeiro/2020 – Mapa Validado.

O Maranhão, de forma geral, apresentou chuvas acima da média histórica, com predomínio de totais pluviométricos acima de 250mm, principalmente na região norte. Além disso, segundo os indicadores de curto prazo (SPEI de 4 e 6 meses e combinado de curto), houve um recuo da seca fraca (S0) nesta região, além da extinção da área com da seca grave (S2) no leste, com base nos mesmos critérios. Não houve recuo ou avanço da seca moderada (S1). Os impactos de longo prazo (L) predominam na região de seca moderada, enquanto os impactos de curto prazo (C) englobam todas as áreas sob seca fraca.

No Piauí as precipitações se concentraram nas regiões norte e sudoeste do estado, onde chegaram a atingir valores de até 300mm. A porção central apresentou chuva variando de 50 a 200 mm. De um modo geral, as precipitações foram acima da média histórica para o mês de janeiro, mas não suficiente para mudar o quadro geral de seca observado até o mês anterior (dezembro). Próximo ao estado de Pernambuco, onde houve subsídios para um pequeno recuo da seca grave (S2), baseado no comportamento da saúde vegetal e na anomalia positiva da precipitação, e na outra área de ocorrência de seca grave, agora na região limítrofe com Maranhão, com o recuo da mesma baseando-se nos indicadores de curto prazo. Os impactos continuam de curto prazo (C) no norte e de curto e longo prazo (CL) no restante do estado.

O Ceará apresentou grande variabilidade espacial e temporal nas precipitações ao longo do mês de janeiro. No litoral, principalmente o norte, correram chuvas significativas, com valores variando de 150 a 200 mm. Já a região oeste (Serra da Ibiapaba) e sul (Cariri) apresentaram valores entre 100 e 150 mm. A região centro-leste (Sertão central e vale do Jaguaribe) apresentaram totais pluviométricos inferiores a 100mm, sendo estas as regiões onde predominaram os maiores desvios da média histórica no Estado para o mês de janeiro. Dessa forma, os indicadores, principalmente de curto prazo, indicaram um recuo da seca fraca (S0) e moderada (S1) no litoral. As áreas sob seca grave (S2) não sofreram alterações. Continuam os impactos de curto prazo (C) no litoral, e de curto e longo prazo (CL) no restante do Estado.

Apesar dos montantes mensais de precipitações de janeiro não terem sido expressivos no Rio Grande do Norte, variando de 30 mm (porção leste) a 170 mm (litoral leste), as chuvas superaram a média histórica, de uma forma geral, e de forma expressiva na região leste. Isto fez com que houvesse um recuo das secas fraca (S0), moderada (S1) e grave (S2) na porção centro-leste do Estado. No leste o predomínio é de impactos de curto prazo (C) com seca fraca (S0). Nas demais áreas do Estado os impactos são de curto e longo prazo (CL).

Na paraíba observa-se um padrão bem definido da ocorrência das chuvas. No Oeste os volumes precipitados variam de 100 a 200 mm; já no leste, de um modo geral, as chuvas foram inferiores a 100 mm,  com valores abaixo de 50 mm em algumas áreas. Analisando-se os indicadores, principalmente de curto prazo (SPEI, SPI e Combinado), além da saúde da vegetação (VHI) neste período, recuou-se a seca grave (S2) no oeste paraibano, e avançou-se as áreas de seca grave (S2) e moderada (S1) na região leste, sentido litoral, com consequente diminuição da área de seca fraca (S0). Os impactos continuam de curto (C) e curto e longo (CL) prazo.

Pernambuco apresentou uma grande variabilidade pluviométrica no mês de janeiro, com variação de aproximadamente 20 mm no Litoral a 250 mm no Sertão. Os maiores desvios negativos da média histórica foram observados no Litoral. A semelhança do que ocorreu na Paraíba, de acordo com os indicadores de curto prazo, houve um avanço das áreas sob seca grave (S2) e moderada (S1) no setor leste do Estado, sobrepondo a área de seca fraca existente em dezembro de 2019. No Sertão do Estado (porção oeste), com o período chuvoso, houve um recuo da seca grave (S2) que abrange o Sertão do Araripe, Central e Pajeú, e também redução da seca extrema (S3) no Sertão de São Francisco. Os impactos continuam de curto prazo (C) no extremo leste, e de curto e longo prazo (CL) no restante do Estado.

Em Alagoas, os totais pluviométricos de janeiro foram baixos, como previsto pela climatologia para este mês nesta região. Os maiores volumes ocorreram no Oeste (Sertão Alagoano), com valores que não ultrapassaram a 100mm, até valores inferiores a 10mm no litoral. Com base nos índices analisados, principalmente de curto prazo, houve o aumento das áreas sob seca grave (S2), e moderada (S1), em sentido ao litoral, mas permanecendo uma área reduzida sob seca fraca (S0) ao longo de quase todo o litoral.  Os impactos continuam de curto prazo (C) no extremo leste, e de curto e longo prazo (CL) no restante do Estado

Sergipe também apresentou volumes mensais baixos de chuva, com valores variando de menos de 30mm na porção centro-oeste do Estado até valores superiores a 80 mm no sul e centro-leste sergipano e, mesmo assim, pode-se dizer que os valores observados giraram em torno da média histórica de janeiro. Com base nos indicadores de curto prazo, houve um pequeno aumento da área sob seca moderada (S1) na porção nordeste do estado. Os impactos de curto prazo (C), a leste, e curto e longo prazo (CL), a oeste, permanecem.

A Bahia apresentou um nítido padrão de ocorrência das chuvas, com os maiores volumes precipitados na metade oeste (valores entre 150 e 400 mm), e os menores na metade leste, predominantemente inferiores a 150 mm. De uma forma geral, as chuvas foram mais volumosas que o esperado historicamente. Anomalias negativas foram observadas em parte da faixa leste do Estado. Com base na análise dos indicadores de curto e longo prazo, aumentou-se as áreas de seca moderada (S1) no extremo sul, diminuiu-se áreas sob secas grave (S2) no alto São Francisco (próximo à divisa com Minas Gerais), além da seca extrema (S3) no norte da Bahia e ampliou-se a área sem seca (recuo da seca fraca (S0)) em parte do Recôncavo baiano. Continuam presente no Estado os impactos de curto (C), longo (L) e curto e longo prazo (CL).

Como é de conhecimento, as preciptações que assolaram o Espírito Santo, causaram sérios danos a população capixaba em diversas regiões. Excetuando a região central e parte da região noroeste, onde os montantes pluviométricos giraram em torno de 100mm, as demais áreas apresentaram, geralmente, volumes superiores a 250mm, chegando a mais de 400mm em algumas áreas ao sul. Os desvios das precipitações em relação à média histórica foram predominantemente superiores a 150mm. Com base nos indicadores, tanto de curto como de longo prazo, houve um recuo acentuado das secas grave (S2), moderada (S1) e fraca (S0), sendo esta última ainda presente na porção noroeste do Estado, sob impactos de longo prazo (L).

Minas Gerais, a semelhança do estado do Espírito Santo, também sofreu com as chuvas torrenciais de janeiro de 2020. As regiões da Grande Belo Horizonte e Zona da Mata (ambas na porção central de MG) foram as mais fortemente atingidas, com volumes superiores a 500mm, e desvios em relação a média histórica de até 600mm. Apesar disso houve áreas onde choveu pouco para o período (<150mm), como parte das regiões noroeste, nordeste (Jequitinhonha) e sul. Com Base nos indicadores, tanto de curto como de longo prazo, houve um recuo significativo das secas fraca (S0), moderada (S1) e grave (S2) em quase toda porção central, oeste e norte do Estado. Permanecem os impactos de longo prazo (L) e curto e longo prazo (CL).

O Rio de Janeiro registrou, em média, acumulados de chuva acima da média climatológica, com valores em torno dos 250 mm, chegando a valores superiores a 300 nas regiões centro-sul e noroeste fluminense. A única região que apresentou desvios negativos em relação a média histórica foi a região mais ao oeste do Estado (Costa Verde e Médio Paraíba). Os indicadores de seca relativa, tanto de curto como de longo prazo, não apontam seca para grande parte do Estado. Assim, diminuiu-se significativamente a área sob seca fraca (S0), ficando restrita somente a porção extremo oeste. Os impactos nesta área continuam de longo prazo (L).

Goiás está no período considerado chuvoso, por esse motivo em parte do estado os valores observados de precipitação foram superiores, em sua maioria, a 250mm. Exceção ocorreram nas porções sul (100 a 250mm) e nordeste (<100mm) do Estado. Apesar disso. A única região que apresentou desvio negativo (significativo) em relação à média histórica de janeiro foi parte das regiões oeste e sudoeste. Com base nos indicadores de curto prazo e nos desvios positivos da precipitação, definiu-se o abrandamento da seca moderada (S1) na região sudeste, passando para seca fraca (S0). Já na porção extremo nordeste do Estado houve um pequeno avanço da área de seca grave (S2) baseado, neste caso, nos indicadores de longo prazo. Os impactos continuam de curto e longo prazo (CL) em todo o Estado.

Em Tocantins, as chuvas tiveram uma distribuição homogênea, com valores de 250 a 350mm. Mesmo assim, somente a metade norte do Estado apresentou desvios positivos em relação a média histórica do mês de janeiro. Parte da porção norte apresentou desvios negativos significativos (>50mm) apesar da climatologia alta. Com base nos indicadores, tanto de curto como de longo, aumentou-se a área de seca grave (S2) e de seca moderada (S1) na porção norte do Estado. Os impactos continuam de curto prazo (C), no extremo norte, e curto e longo (CL) prazo no restante do Estado.

Para o traçado do mapa referente ao mês de janeiro de 2020, foram utilizadas as considerações feitas nas reuniões de autoria (regionais e nacional) realizada no dia 10/02/2020 por representantes do INEMA-BA, APAC-PE, FUNCEME-CE, IGAM-MG, INCAPER-ES e ANA, e as validações realizadas pelos representantes das instituições: LABMET/NUGEO/UEMA-MA, SEMAR-PI, AESA-PB, SERHMA/SEDURBS-SE, EMPARN/EMATER-RN, INEMA-BA, APAC-PE, IGAM-MG, INEA-RJ, AGERH/INCAPER/DEF.CIVIL/CESAN-ES, CIMEHGO/SEMAD-GO e CPEDC-TO.



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