MONITOR DE SECAS DO MÊS DE OUTUBRO DE 2020
Por Márcio Fialho em 21 de maio de 2021
NARRATIVA DO MONITOR DE SECAS DO MÊS DE OUTUBRO DE 2020
Condições Meteorológicas do Mês de Outubro de 2020
As condições de precipitação no mês de outubro de 2020, na região abrangida pelo Monitor de Secas são apresentadas na Figura 1, sendo: (a) precipitação observada; (b) climatologia e (c) anomalia.
O mês de outubro tem uma climatologia de precipitação inferior a 30 mm em grande parte do Nordeste do Brasil (NEB), situados no norte do Maranhão, no centro-norte do Piauí, no Ceará, no Rio Grande do Norte, na Paraíba, no centro-oeste dos estados de Pernambuco e de Alagoas, e no norte da Bahia. Nas demais áreas do NEB, a climatologia varia de 30 mm a 250 mm. No Norte de Minas Gerais, no sul do Rio de Janeiro, no centro-norte de Mato Grasso do Sul e no extremo sul do Rio Grande do Sul, com climatologia em torno de 90 mm. Já nas demais áreas os volumes médios de chuva mensal oscilam entre 120 mm e 250 mm, como pode ser visto na Figura 1 (b).
Os maiores volumes de precipitação registrados em outubro de 2020, com valores acima de 300 mm, ocorreram no oeste de Goiás, em alguns pontos da região central e no leste de Minas Gerais e na região central do Espírito Santo. Por outro lado, houve ausência de precipitação ou acumulados inferiores a 60 mm em grande parte do NEB, no centro-norte de Mato Grasso do Sul e do Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e em São Paulo (figura 1 a).
Na Figura 1 (c) é verificado que as anomalias negativas de precipitação foram registradas em grande parte na região sul do Brasil (Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná), em São Paulo, norte dos estados de Mato Grasso do Sul, Goiás e Tocantins bem como no sul dos estados de Minas Gerais, Goiás, Tocantins e Maranhão. Em contrapartida, os maiores desvios positivos ocorreram no centro-norte de Minas Gerais, no norte do Rio de Janeiro, no Espírito Santo, no leste e oeste de Goiás, no sul da Bahia e no centro-sul do Piauí. Nas demais áreas, de um modo geral, as chuvas ficaram próximas da climatologia do mês de outubro.
Síntese do Traçado do Monitor das Secas do Mês de Outubro de 2020
Ao comparar o mapa validado em setembro de 2020 ( a) com o mapa de outubro de 2020 (b), verifica-se tanto o surgimento de áreas de seca do quanto o recuo da seca em toda a região de abrangência do Monitor de Secas.
No Nordeste, o mês de outubro normalmente apresenta volume de chuva bastante reduzido. Em relação a setembro, chama a atenção não só o avanço da seca observada no mês anterior, setembro, (Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba), mas também o aumento do grau de severidade da seca (Maranhão, Piauí e Sergipe). Poucas foram as áreas com o desaparecimento da seca, como no caso da Bahia.
Já no Sudeste, a climatologia de outubro aponta para o início de um período chuvoso. Comparativamente a setembro, houve recuo da seca nos estados de Espírito Santo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, enquanto em São Paulo houve avanço.
No Sul, outubro normalmente é considerado um mês de chuvoso. Mesmo assim, em relação a setembro, além do surgimento de nova área com seca, caso do Rio Grande do Sul, também houve aumento da intensidade da seca em todos os estados.
Nos demais estados (Mato Grosso do Sul, Goiás e Tocantins) e no Distrito Federal, outubro é climatologicamente um mês chuvoso, mas em relação a setembro, foram poucas as áreas que apresentaram melhora, como no caso da porção leste de Goiás, abrangendo o Distrito Federal.
Houve mudança na escala temporal dos impactos associados à seca em algumas áreas, que antes eram apenas de longo prazo (L) e agora estão delimitadas por uma linha de curto/longo prazo (CL); como no caso do norte do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul.
No Maranhão, outubro é caracterizado por baixa pluviosidade em grande parte do estado, excetuando a região sul. A região centro-oeste foi a que apresentou anomalia negativa mais expressiva, o que foi determinante para promover o aumento de área com seca moderada (S1), bem como para o surgimento de uma área com seca grave (S2) na divisa com o estado de Tocantins. Os impactos permanecem de curto e longo prazo (CL) na porção central, e de curto prazo (C) no restante do estado.
A climatologia de outubro no Piauí apresenta um gradiente bem definido, com norte mais seco quando comparado com o sul. A chuva observada este ano acompanhou a climatologia, com exceção da porção central e uma faixa na região sul, que apresentaram desvios positivos de precipitação, mas não o suficiente para melhorar o atual quadro da seca instalada. Houve um pequeno avanço da seca moderada (S1) próximo a porção oeste do estado de Pernambuco, em função da piora dos indicadores de seca dessa região. Quanto aos impactos, não houve alterações.
Outubro, no Ceará, é caracterizado por ser um mês com baixa pluviosidade. As chuvas observadas acompanharam a média histórica em praticamente todo o território do estado. Os indicadores de seca apontam para uma expansão da área de seca fraca (S0) em direção ao litoral, principalmente por causa das altas temperaturas registradas durante este mês. Excetuando a região centro-leste, onde os impactos da seca são de curto e longo prazo (CL), o restante do estado apresenta impactos apenas curto prazo (C).
No Rio Grande do Norte, a climatologia da precipitação em outubro é baixa, e as chuvas observadas ficaram em torno da normal. Isto fez com que houvesse um agravamento dos indicadores de seca, principalmente por conta das altas temperaturas observadas neste período. Assim, a seca fraca (S0) avançou por quase todo o estado, excetuando a região extremo leste, que permaneceu sem seca. Também houve um pequeno avanço da seca moderada (S1) na fronteira com a Paraíba. Predominantemente os impactos observados da seca são de curto prazo (C), excetuando algumas pequenas áreas do sul e sudoeste, onde tem-se impactos tanto de curto como de longo (CL)
A Climatologia da precipitação de outubro na Paraíba é baixa. As chuvas observadas acompanharam a média histórica. Em função disso, os indicadores de seca apontam para não só a permanência da seca já instalada, como no aumento da área de seca fraca no oeste, e no avanço da seca moderada (S1) para leste. Os impactos da seca permanecem de curto (C) e curto e longo prazo (CL).
Pernambuco apresenta, em outubro, uma climatologia de precipitação baixa. As chuvas observadas basicamente acompanharam a média histórica nas diversas regiões, com exceção de parte da porção centro-leste, a qual apresentou desvios positivos. Com base nos indicadores de seca, houve um pequeno avanço da seca fraca (S0) nas regiões leste e norte, e um avanço da seca moderada (S1) em uma pequena área no extremo oeste, divisa com a Bahia. Os impactos associados a seca continuam de curto e longo prazo (CL) no leste e sudoeste, e de curto prazo (C) no restante do estado.
Outubro, em Alagoas, é caracterizado por poucas chuvas em quase todo o estado. As chuvas observadas ficaram abaixo da média na região leste, e acima da média no extremo oeste. Este quadro, apoiado pelos indicadores de seca, levaram a um avanço da área de seca fraca na região centro-norte do estado. Predominam os impactos de curto prazo (C), ficando somente parte da porção oeste sob impactos de seca de curto e longo prazo (CL).
Sergipe apresenta, para outubro, uma climatologia da precipitação baixa. As chuvas que ocorreram neste mês foram acima da média na porção noroeste e abaixo da média, no extremo nordeste e grande parte do sul. Poucas foram as áreas que acompanharam a climatologia. Os indicadores apontam para um aumento de área sob seca moderada (S1) em direção ao litoral, assim como um avanço da seca fraca (S0) ao sul. Os impactos continuam de curto prazo (C) no sul e leste, e de curto e longo prazo (CL) no norte e noroeste.
O estado da Bahia apresentou uma distribuição dos totais pluviométricos observados variada, com os desvios positivos ocorrendo na região centro-sul e parte do oeste e norte, e os desvios negativos concentrado na região centro-leste, oeste e em algumas áreas do litoral. Com base nos indicadores de seca, houve um recuo da seca fraca (S0) na porção central e extremo-sul, ampliando assim a área sem seca. A seca moderada (S1) no sul-sudoeste também teve um recuo significativo. Quanto aos impactos, foi observada uma redução nas áreas com impacto de longo prazo (L) ao leste. No oeste houve o surgimento de uma área sob impactos de curto prazo (C), ficando o restante do estado sob impactos de seca de curto e longo prazo (CL).
No Espírito Santo, a climatologia da precipitação em outubro é em torno de 120 mm. As chuvas observadas neste mês ficaram acima da média, o que fez com que os indicadores de seca apontassem uma melhora, justificando o recuo da área com seca fraca (S0), ficando ela restrita a porção noroeste do estado, com impactos apenas de curto prazo (C).
O Rio de Janeiro, em outubro, apresenta uma climatologia da precipitação em torno de 90 mm. Nesse período, chuvas acima da média ocorreram na região centro-norte do estado, enquanto no sul foram observadas áreas com chuva abaixo e em torno da média. Com base nos indicadores de curto prazo, houve o recuo da área com seca fraca (S0) no norte e porção central do litoral, assim como da área com seca moderada (S1) na porção centro-norte. Toda a área com seca está sob impactos de curto prazo (C).
Em Minas Gerais, as precipitações observadas em outubro foram, na porção norte e leste, acima da média. Já no sul e oeste (Triângulo Mineiro), as precipitações observadas ficaram abaixo e em torno da média. Isto propiciou o recuo das áreas sob seca fraca (S0) e moderada (S1) na região centro-leste e, em contrapartida, um avanço das áreas sob seca moderada (S1) e grave (S2) no sul. Impactos de longo prazo (L) ainda se fazem sentir no nordeste do estado; de curto e longo prazo (CL) em porções ao norte, oeste e sul, e no restante , permanecem impactos de curto prazo (C).
No estado de Goiás, outubro, historicamente se caracteriza por apresentar totais pluviométricos em torno de 110 mm. Nas regiões leste e noroeste, foram observadas chuvas acima da média, enquanto nas áreas mais ao sul e ao norte do estado, as chuvas ficaram abaixo da média. Avaliando-se os indicadores, tanto de curto como de longo prazo, sugere-se o recuo da seca fraca (S0) na porção oeste do estado, ficando esta área sem seca relativa. Nas áreas sob seca, os impactos, permanecem de curto e longo prazo (CL).
O Distrito Federal apresentou chuvas acima da média climatológica, suficiente para que os indicadores de seca apresentassem uma melhora e apontassem para uma regressão da seca em toda a região, ficando sem seca relativa.
As chuvas de outubro em Tocantins, historicamente, têm volumes baixos no norte, diferente do centro do estado, onde possui valores maiores de precipitação. Este ano, outubro teve chuvas predominantemente abaixo da média, mas com algumas áreas no leste, sul e norte com desvios positivos. Apesar disso, somente a região extremo norte do estado apresentou indicadores que levaram ao surgimento de uma seca grave (S2), na divisa com o oeste do Maranhão. Excetuando duas áreas, no sudeste e norte, onde a seca está sob impacto de curto prazo (C), o restante do estado está sob impactos de curto e longo prazo (CL).
Em outubro, Mato Grosso do Sul apresenta, historicamente, precipitações mais altas no sul do estado, e menores ao norte. Este ano, outubro marcou o retorno gradual das chuvas no estado. Com base na análise dos indicadores, tanto de curto como de longo prazo, fez-se um recuo da seca extrema (S3) e da seca grave (S2) no centro-oeste. Agora, todo a área de seca do estado está sob impacto de curto e longo prazo (CL).
Em São Paulo, os totais pluviométricos ficaram abaixo da média em praticamente todo o estado, com exceção em algumas áreas do norte e leste. Essa característica, somada a análise de indicadores que consideram a influência das elevadas temperaturas do ar observadas ao longo desse mês, resultou em um avanço da seca grave (S2) na porção central do estado. Com exceção de duas áreas, ao sul e a leste, cujos impactos são de curto prazo (C), o restante do estado encontra-se sob impactos de curto e longo prazo (CL).
No mês de outubro, as chuvas ficaram abaixo da normalidade em todo o estado do Paraná, principalmente na região sul. Isto se refletiu na piora dos indicadores de seca, que acabaram apontando para um avanço da seca grave (S2) para toda a região sul. Os impactos, que antes eram de longo prazo (L) na porção centro-oeste e de curto e longo prazo (CL) nas demais áreas, passaram a ser apenas de curto e longo prazo (CL) em todo o território.
Em Santa Catarina, outubro é historicamente um mês com valores elevados de precipitação no oeste (em torno de 250 mm), diferente do leste que possui valores menores em torno de 120 mm). Em 2020, o mês de outubro ficou com chuvas abaixo da média, principalmente na porção centro-oeste. As chuvas abaixo da média favoreceram o avanço da seca grave (S2) para oeste e sul, cobrindo praticamente todo o estado, com exceção da região sudeste, que continuou com seca moderada (S1). Os impactos da seca são de curto e longo prazo (CL) em todo o estado.
No Rio Grande do Sul, as chuvas abaixo da média em todo o estado, principalmente no centro-norte e oeste, favoreceram o surgimento da seca fraca (S0) no norte, o avanço da seca moderada (S1) no norte e oeste, e o avanço, em menor escala, da seca grave (S2) no extremo norte, deixando assim de existir área sem seca relativa. O estado ficou sob impacto de curto e longo prazo (CL), com exceção da área onde houve o surgimento de seca fraca (S0), que ficou com impacto de curto prazo (C).
Para o traçado do mapa do Monitor de Secas de outubro de 2020, foram utilizadas as considerações feitas na videoconferências realizadas no dia 11/11/2020 por representantes da ANA e das instituições autoras: INEMA-BA, APAC-PE, FUNCEME-CE, IGAM-MG e INCAPER-ES, bem como informações da rede de validadores e observadores estaduais durante a etapa de validação. Os trabalhos foram coordenados pela equipe da Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico, Instituição Central do Programa Monitor de Secas.